O nordestino é uma figura que vem sendo desenhada e redesenhada ao longo do último século. Quase sempre visto como um homem sofrido, pobre, que vive na seca, veste calça de couro, acompanhado do chapéu de lampião, no cenário do sertão e possuidor de precário nível de instrução. É como se ao longo do tempo tivesse ocorrido uma constante construção do Nordeste como espaço de negação, cada vez colocado mais distante das outras regiões do país.
Em anos eleitorais, esse afastamento se acentua e normaliza os ataques aos nordestinos nas redes, os quais são recorrentes. O movimento contra a região, após resultados eleitorais, se tornou praxe, tendo acontecido também em 2014 e 2018, após vitória de Dilma Rousseff. Neste pleito, após os resultados das eleições no último final de semana, em que o Nordeste foi crucial para a virada a favor do ex-presidente Lula (PT), a propagação de ofensas discriminatórias em razão dos votos registrados na região cristalizou mais um rótulo ao povo da região, qual seja, “que vive de migalhas”.
Nesse contexto, importante mencionar que o preâmbulo da nossa Constituição enuncia os valores sob os quais o Estado Democrático deve ser construído, o qual preza por uma: “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social.” Não só por esse motivo, mas por uma questão de civilidade, é que manifestações perpetradas contra os nordestinos devem ser repudiadas.
Não obstante a isto, devemos suspeitar que nós, os nordestinos, costumamos nos colocar como os constantemente derrotados, oprimidos, discriminados e explorados. Não podemos contribuir com esse discurso de vitimização e inferiorização, afinal o Nordeste representa cerca de 25% do total do Brasil, o que o coloca como a segunda região mais populosa do Brasil, com mais de 53 milhões de habitantes.
Portanto, dada a importância da contribuição do Nordeste na definição das eleições presidenciais, é inadmissível, nos dias de hoje, manifestações que busquem diminuir a importância de brasileiros e brasileiras que exercem sua cidadania.